Estivemos à conversa com a Dra. Sandra Silva, licenciada em Psicologia Escolar e especializada em Educação Especial, nomeadamente em Dificuldades de Aprendizagem Específicas. Formada em Metodologias Práticas de Intervenção Snoezelen nas áreas das Necessidades Educativas Especiais e da Demência e certificada profissionalmente em Técnicas de Estimulação Forbrain, a Dra. Sandra encontra-se atualmente responsável pela dinamização e intervenção multissensorial da sala Snoezelen de uma escola do distrito do Porto.
A sala Snoezelen do agrupamento de escolas onde trabalha surgiu no âmbito do Orçamento Participativo Jovem, da Câmara Municipal local. A proposta vencedora partiu de duas alunas e permitiu a construção da sala na sede do agrupamento. Todos os alunos do concelho com necessidades especiais de saúde podem beneficiar do apoio prestado neste espaço, nomeadamente Autismo, Síndrome de Down; Asperger; Atraso Cognitivo; Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção; Perturbação da Linguagem; estados ansiosos e depressivos, entre outros.
A intervenção Snoezelen incide sobre a estimulação das sete áreas sensoriais (auditiva; olfativa; tátil, gustativa, vestibular e propriocetiva), mas também sobre o relaxamento e o bem-estar da criança.
Intervenção Multissensorial
A referenciação da criança com necessidade de terapia Snoezelen é feita pelos professores que trabalham com ela diariamente.
O tipo de intervenção depende do preenchimento de um formulário de referenciação, onde são assinaladas as áreas a desenvolver e/ou a estimular. Acima de tudo, o mais importante é conciliar as áreas a trabalhar com os seus instrumentos favoritos. Assim, a criança irá sentir-se confiante e confortável neste espaço. É a criança que ajuda a definir o melhor caminho a seguir.
A Dra. Sandra referiu que, nas primeiras quatro sessões, é dada liberdade à criança para explorar a sala. A partir deste momento, é possível identificar quais os materiais preferidos de cada criança. Neste sentido, os exercícios são preparados, adaptados e orientados em função das áreas que cada criança precisa de estimular. De seguida, é elaborada uma dieta sensorial, que é frequentemente adaptada às necessidades da criança.
Por vezes, a criança mostra alguma resistência em entrar na sala, pois irá encontrar um espaço escuro e desconhecido. Nesta situação, não se deve fazer uma abordagem diretiva, mas sim dar algum tempo à criança para se adaptar. Uma abordagem errática pode tornar-se agressiva e devastadora para a criança.
Recursos e Experiências Multissensoriais
Nesta sala, a criança pode encontrar vários materiais que permitem o desenvolvimento de experiências multissensoriais únicas, completas e significativas. Veja alguns exemplos:
A Dra. Sandra confessou-nos que trabalhar neste espaço tem sido bastante enriquecedor e desafiante, pois cada criança apresenta características muito próprias, o que exige uma constante adaptação da intervenção.
Reforçou ainda que os equipamentos da sala são a base de todo o trabalho, mas torna-se necessário a criação de novos instrumentos adaptados à particularidade e singularidade de cada criança e esse é o grande desafio deste trabalho.
Mencionou que, por vezes, é difícil atrair a atenção da criança para uma determinada atividade e que, por vezes, nem sempre se consegue efetuar uma atividade planeada, dada ao estado anímico da criança.
Benefícios na prática do Snoezelen
A Dra. Sandra referiu que a intervenção multissensorial permite o desenvolvimento de competências cognitivas, comunicativas, comportamentais, socioemocionais, motoras e educacionais. Sublinhou ainda que a intervenção permite a diminuição de comportamentos inadaptativos, a agressivos e estereotipados; a diminuição da ansiedade e do stress; o aumento da atenção/ concentração; o aumento da autoestima e autocontrolo, da motivação e da autonomia e o alívio da dor. Neste espaço, a criança também aprende a adquirir regras, hábitos e rotinas e a compreender limites.
A Dra. Sandra relatou-nos que, no final de cada sessão, as crianças ficam mais calmas, mais relaxadas. Muitas até gostam de mostrar aos pais o que estiveram a fazer e algumas das crianças mostram alguma resistência em sair da sala por se sentirem bem e em segurança.
Segundo a Dra. Sandra, a articulação com a família tem sido bastante positiva e tem sido fundamental para o sucesso da intervenção.